Você me ouviu?
Ahn?
Eu estava falando com você – você não ouviu nada do que eu disse?
Desculpe – não ouvi, tava pensando em outra coisa.
Pois é – isso é exatamente o que eu acho que faz com que a gente tenha a impressão do tempo passar mais rápido...
O que? Eu não ter te ouvido?
Não. A gente não conseguir manter a atenção numa coisa de cada vez.
Como é? Olha desculpa, eu não quis te chatear...
Não, não é isso, não chateou. O que estou dizendo é outra coisa: quando eu me lembro de quando era criança, sempre tenho a sensação de que o tempo demorava bem mais pra passar.
É, eu também. Provavelmente todo mundo sente isso. E daí?
Daí que eu acho que é a coisa da atenção. Quando se é criança, a gente tem atenção total pra tudo. Seja o que for. Um besouro no chão, uma palavra nova, uma cor diferente: seja o que for, quando capta a atenção, capta toda a atenção a criança. Depois vem a adolescência e pronto, vai-se embora a atenção, pelo menos essa atenção cem por cento.
Fica fracionada, sim – mas tem jeito? A gente não consegue pensar numa coisa só, tem muita coisa pra resolver.
Então – aí nossa atenção fica partida: tem mil coisas na cabeça ao mesmo tempo. Todas elas consumindo um pedaço da nossa atenção; nenhuma tendo a atenção total. Eu acho que é por isso que o tempo parece passar depressa demais: porque enquanto a gente está com a atenção dividida em mil pedacinhos, a cabeça tenta entender e processar tudo isso – e aí o dia fica curto, os minutos escorrem por entre os dedos.
Queremos pegar tudo ao mesmo tempo, queremos entender tudo. Misturamos assuntos o tempo inteiro, falamos de duas ou três coisas, e ainda temos mais umas quatro ou cinco das quais não falamos, porque não dá... tempo. Percebe? Se a gente tratasse de uma coisa de cada vez, talvez desse tempo de fazer mais coisas.
Ou talvez a gente ficasse com muito mais coisas por fazer e resolvesse menos ainda...
Pode ser. Mas por alguma razão, tenho certeza que seríamos muito, muito mais felizes.
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