quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A última de 2011


E o ano acabou, tão rápido quanto veio. O ano no qual o Brasil efetivamente deixou de ser o país do futuro, para ser o país do agora. A despeito do muito que há a ser feito antes que possamos chamar o Brasil de desenvolvido, ou mesmo civilizado, não se pode minimizar a importância desse passo.
Aqueles que estabeleceram metas acima dos números de 2010 estão frustrados. Mas a culpa é deles mesmos: já é hora de virar adulto e encarar o óbvio, ou seja, que depois de um ano de brilhante e inesperado crescimento, o ano seguinte tende a ser bom – apenas isso. O que jamais significará crescer mais que os números brilhantes de 2010.
Aqueles (raros, para minha surpresa) que tiveram os pés no chão para saber que 2011 seria um ano bom, porém nada espetacular, estão com a sensação de ter progredido, consolidado um patamar saudável.
Este foi o ano no qual pessoas do mundo todo redescobriram que podem, e devem, tomar as ruas e protestar. Os cínicos dirão que protestar não garante mudança. Eu direi apenas que não protestar garante que as coisas fiquem do mesmo jeito.
Este foi o ano de derrubada de muitas ditaduras retrogradas. O que absolutamente não quer dizer que esses países estão realmente melhores para as pessoas que vivem neles. Mas mesmo o estado de turbulência, dúvida e indefinição é superior ao estado que esmaga o cidadão que o mantém. Superior porque, mesmo que não seja bom, a mudança em si é infinitamente melhor que a modorra de quarenta anos de um ditador absolutista.
Este foi um ano estranho. O Brasil falando em emprestar dinheiro à Europa, os Estados Unidos à beira do caos de renegociação de dívida. O Dalai Lama deixando de ser líder político e tornando-se exclusivamente líder religioso – e saindo pelo mundo numa campanha para Celebrar Nossas Diferenças. Porque é da aceitação delas que se fará uma humanidade verdadeiramente plural. O Papa sendo processado por acobertar crimes contra a humanidade. O negro Obama que preside os Estados Unidos falando de dívida, a Roussef descendente Européia que preside o Brasil, de emprestar dinheiro.
Como diria o Chacrinha, 2011 não veio para explicar, veio para confundir. E seja bem vinda essa confusão que abala as certezas velhas, que espana o pó assentado por sobre as teses mofadas, que remexe o fundo e desassossega.
Que venha 2012, e que possamos seguir exatamente neste caminho. Porque como todo mundo sabe, pra arrumar de verdade alguma coisa, é preciso fazer antes uma bagunça danada.

(C) 2011. Paulo R. R. Ferreira. Todos os direitos reservados.