Aquilo que não se encontra em sua mente
não pode escorregar e sair pela sua boca.
~ Paulo Ferreira
Aquilo que lhe vai na mente, na alma e no
coração, é muitas vezes expresso por palavras escritas ou faladas; acompanhadas
ou não de gestos e entonações que lhes sublinham e reforçam os sentidos. Elas
são, é verdade, um recurso limitado e impreciso – e ainda assim, são o melhor
recurso do qual dispomos para grande parte de nossa expressão pessoal.
É amplamente conhecido que a cada língua corresponde,
de certo modo, um sistema de pensamento, ou ao menos um "angulo
mental" que DERIVA, DEMONSTRA, ILUSTRA e INFLUENCIA cada cultura. Povos
tem palavras para designar aquilo que lhes é relevante, seja pelo valor ou pela
ampla presença em suas vidas.
Assim, as palavras que usamos são,
consciente ou inconscientemente, expressões do que pensamos e sentimos,
expressões do que somos. Nossas palavras são "postos avançados"de
nosso ser interior. E muitas vezes, expressam coisas que estão dentro de nós e
que ainda sequer nos demos conta. Por mais que se questione muitas das teorias
apontadas por Freud, uma de suas mais preciosas observações diz respeito ao
famoso "ato falho". Aquela palavra ou ato que tão reveladoramente "escorrega",
e que tantas vezes vem logo acompanhada da expressão "eu não quis dizer
isso"... E querendo ou não... foi o que disse.
Quantas vezes cada um de nós
"aprendeu" ouvindo a si mesmo? Quantas vezes foi ao comunicar e
definir em palavras que realmente concebemos e apreendemos algo que, antes
disso, nos parecia vago?
Daí a importância fundamental de atentar
para as nossas palavras. Elas são nossa expressão no mundo e re-alimentam nossa
própria mente pela repetição e uso. E as palavras que usamos revelam o que está
em nossas mentes. "Era apenas brincadeira"; "foi só um modo de
dizer" – você pode escolher um milhão de modos de sair pela tangente. Mas
uma palavra não pode "sair pela boca" sem que a ideia correspondente
estivesse presente em sua mente.
Quase todas as pessoas tem maneiras
próprias de expressar-se, e "palavras favoritas". Conheço uma pessoa
que usa muito a palavra infinitamente. E
este é um exemplo interessante: demonstra uma vontade de marcar profundamente
uma diferença, deixar muito clara uma posição: Tal coisa é infinitamente melhor que tal outra. Parece um pouco
exagerado – mas é a vontade de clareza na preferência que está expressa, não?
Há pessoas que usam tanto certas palavras
que ficam até conhecidas por isso: conheci um rapaz que era chamado pelos
amigos de "João Fantástico"... porque escolhia este adjetivo para
tudo que lhe agradava.
Agora pense por um instante: quais são as
palavras que definem a sua linguagem? Quais são as palavras que você diz o
tempo todo; expressões, adjetivos. Qual é a SUA palavra aquela que está
associada a você? Se ficou em dúvida, pergunte a alguém que convive muito com
você.
Lembre-se: cada palavra dita é algo que
você ESCOLHE colocar no mundo.
E o mundo, mais cedo ou mais tarde, devolve tudo que recebe.