terça-feira, 11 de maio de 2010

Intuição e Caos.

Há algumas semanas estive lendo o maravilhoso livro de Lawrence Olivier, “On Actin”, publicado no Brasil com o título “Ser Ator”. O livro é encantador, o texto de Olivier é fluido e mostra o tamanho do envolvimento do grande astro com as raízes de seu ofício. Lá pelas tantas, descrevendo os problemas encontrados na montagem de uma peça num teatro no exterior, ele escreve: “como normalmente acontece no teatro quando temos pouco tempo e condições precárias, as pessoas se esforçam, um milagre acontece, e tudo sai muito melhor do que se esperava.”
Imediatamente me lembrei de quantas vezes ouvi gente de comunicação dizer que gostava do “caos e da correria”; que as coisas saíam melhores, mais vivas desse modo. Uma variação da outra declaração típica que “sem correria não tem graça”.
Observando essas idéias em contraste com os estudos sobre criatividade humana e inovação, uma confusão comum me parece estar por trás dessa visão: a confusão entre o poder de usar o conhecimento intuitivo e o caos circundante. Grande parte das pessoas, em condições normais de trabalho, sofre de inseguranças bastante comuns; e vacilam em tomar decisões mesmo quando estas estão dentro de seu campo de conhecimento e experiência. Mas quando pressionadas por um deadline apertado ou pela falta de recursos, muitas vezes utilizam esta “precariedade” como uma forma de libertação de suas inseguranças. Uma vez que o tempo é curto, os recursos, escassos, a condição longe do ideal – sentem-se mais à vontade, mais livres para usar seus conhecimentos mais intuitivamente, quase como se a condição fora do ideal as libertasse das amarras de um resultado “perfeito”.
Aqui reside a questão: a perfeição não pertence a esse mundo, não é objetivo válido – pode ser, e deve ser – um ideal a ser perseguido, contanto que tenhamos sempre a perspectiva e resguardemos a distância entre IDEAL e objetivo em execução.
Uma vez livre da enganosa busca pela perfeição, o profissional se permite ousar, inovar e usar de fato sua intuição - porque se tentar calcular minuciosamente cada detalhe, não chegará a realizar o resultado a tempo. É o mesmo que fazemos quando chutamos uma bola: olhamos para a bola, para o gol, batemos com o pé numa determinada área da bola, que, intuitivamente, imaginamos que a vá direcionar para onde desejamos. Poderíamos nos escorar em cálculos milimétricos de trajetória e força, poderíamos conscientemente pesar cada elemento envolvido antes de desferir o chute. Mas sem dúvida, antes de chegarmos a realizar 1% de todo o cálculo exigido para realizar isso, a bola já nos teria sido tomada pelo adversário.
Portanto, gostaria de chamar atenção para o uso do conhecimento intuitivo, que hoje é cada vez mais valorizado. Ele é o resultado de todas as nossas experiências de vida, tudo que sabemos; concentrado numa resposta rápida que leva à ação. Nem sempre perfeita, é verdade. Mas com a aceleração com que os negócios são feitos hoje, indispensável. Porque assim como no futebol, é mais importante conseguir intuitivamente chutar a bola e mandá-la para a área. Lá, um centroavante poderá arredondar a jogada e transformar o passe em gol. Não há certeza, é claro.
Por outro lado, se você tentar fazer todos os cálculos milimetricamente, há sim, pelo menos uma certeza: a bola vai ser tomada de você antes que tenha feito qualquer coisa com ela.