Por Paulo Ferreira
Em diversos comentários e debates sobre
consciência, despertar interior e autoconhecimento (esse é o assunto que domina
a maior parte do meu tempo, tanto ao servir o Propósito quanto na dia a dia
como escritor, coach ou consultor) ouço ou leio a recorrente expressão
"é... mas não é fácil" ou "mas é muito difícil". Essas duas
expressões são algo extremamente perigoso, e vou explicar por que: normalmente
elas são usadas como um "fecho", uma frase que é dita no final de uma
conversa, e colocada ali, sinaliza uma reação interna da pessoa que é muito
complicada: sinaliza que ela está "construindo a zona de conforto ou a
ponte da fuga".
Muitas vezes, quando falamos de
autoconhecimento e desenvolvimento, tocamos em pontos delicados, em
autocrítica, em rever atitudes, olhar para dentro. Esse é o desafio de fato,
porque olhar pra fora e apontar responsabilidades externas é sempre fácil: o
erro do outro é sempre evidente. Apenas os nossos próprios é que se escondem de
nós mesmos. Uma das reações mais comuns e primárias é a negação: e sabemos que
enquanto a pessoa nega o seu comportamento, naturalmente não pode modificá-lo.
Entretanto, a negação é uma atitude clara. Já a atitude do "é
difícil" é bastante mais sutil e por isso retém mais gente no caminho: muitas
vezes a pessoa tem a SENSAÇÃO que de o RECONHECIMENTO inicia AUTOMATICAMENTE a
mudança. Não é assim. O reconhecimento é importante, mas em si, sozinho, ainda
não é SOLUÇÃO. É apenas um passo adiante em relação à negação... mas é AINDA,
um passo ANTES da mudança. O "é difícil" sinaliza que a pessoa,
enfim, tomou conhecimento; reconheceu algo em si mesmo que precisa mudar. E uma
vez reconhecido, PODE iniciar uma mudança.
MAS RECONHECER não é MUDAR. AGIR DIFERENTE
É MUDAR.
É nesse ponto que surge a tentação de criar
a zona de conforto da "dificuldade"; escorar-se nela para a fuga ou o
adiamento. E com isso, inicia-se um ritual de repetição interminável da mesma
atitude, com o comentário sobre o quanto é "difícil mudar" sendo
usado como desculpa, justificativa, ou ambas as coisas. E enquanto esse
"ritual da valorização da
dificuldade" persiste, nada está sendo feito de fato. É apenas
auto-engano.
O comportamento recorrente de afirmar o
óbvio, vezes e vezes sem conta; falar e insistir na "extrema dificuldade"
que existe em iniciar a mudança, em primeiro lugar, é uma completa obviedade: é
claro que não é simples para a pessoa em questão. E ela, mais que qualquer
outra, SABE disso. Então, porque ela insiste tanto em repetir o óbvio? Porque é
assim que se constrói uma "zona de conforto de imobilidade", ou uma
"ponte de fuga".
Enquanto ela destaca aos quatro ventos o
tamanho da "imensa" dificuldade que tem à sua frente... ela está, na
verdade, JUSTIFICANDO para si mesma a permanência na atitude. Aumentando o
"tamanho simbólico" da dificuldade; nutrindo a dificuldade, ela está
justificando, para os outros – mas principalmente para SI MESMA – que
permanecer naquela atitude é "aceitável"... dado que seja "tão
difícil" mudar.
Isso não é nada alem de uma MULETA.
O ser humano empreende em sua vida uma
série de atividades que não são simples, nem fáceis, nem confortáveis. Pense
por um instante no momento em que uma pessoa decide ser médico, por exemplo.
Bem rapidamente, recapitulemos: quando decide fazer isso, a pessoa em questão
SABE que terá de estudar anos a fio; dedicar-se por oito anos; fazer
residência, deixar de lado uma série de hábitos confortáveis. E o mesmo é
verdade para qualquer outra formação, em algum grau. E, entretanto, as pessoas
tomam essas decisões e FAZEM isso TODOS OS DIAS. Elas SABEM que não será fácil.
Mas entendem que AQUILO QUE QUEREM TORNAR-SE é importante para elas. E por
isso, EMPREENDEM o esforço necessário. Não ficam falando o tempo inteiro sobre
a dificuldade envolvida em tornarem-se médicos, ou advogados, ou seja lá o que
for.
A pergunta, então, é muito clara: VOCÊ QUER
TORNAR-SE uma pessoa melhor, aprimorar-se, ganhar autoconhecimento, atitude?
TORNAR-SE alguém melhor é IMPORTANTE o suficiente?
Se é, MOVA-SE. FAÇA. ABRACE com toda atitude
e disposição TODOS os momentos e desafios necessários para TORNAR-SE TUDO o que
você PODE ser. Não permita que a "falação" interna do ego repita o
tempo todo uma conversa inútil sobre "dificuldades".
Fácil é não
fazer nada. E não fazer nada... leva a lugar nenhum.
Gratidão. AUM.