terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A última de 2009

Esta é a mensagem que quero compartilhar com quem eu amo neste fim de ano.

Ela não é doce nem bonitinha. É mais uma provocação incômoda daquelas que eu costumo cometer sempre. E como sempre, não vem com bula nem com manual de instruções; até porque todos nós sabemos o que deveríamos fazer, assim como sabemos exatamente o que é realmente importante nessa vida.

Lá vai:

Sempre que vejo alguma matéria que mostra gente que perdeu o que ama, penso que apenas nessas horas é que as pessoas conseguem se dar conta do que realmente importa. No resto do tempo, andam pelo mundo, cegas, perdidas, em busca daquilo que a sociedade convencionou que deve ser feito. Só quando a tragédia arrebenta suas vidas é que se dão conta do quanto tempo foi perdido com bobagens – tempo que poderia ter sido vivido com aquilo que foi perdido ou aquele que se foi.
Mas aí, já é tarde. E enquanto ainda não era tarde, ninguém conseguiu ver, porque continuou cego pelo brilho de uma felicidade adiada, aquela que o mercado vende o tempo todo: “não pense nos seus sonhos hoje - trabalhe mais, produza mais, seja promovido, ganhe muito dinheiro – e assim, um dia você poderá realizar seus sonhos e ser feliz.”

Só que esse dia não chega, a menos que a gente escolha que esse dia seja hoje.

Felicidade não pode ser adiada, eternamente planejada. Não dá pra ser feliz esquecendo seus sonhos “por enquanto” – enquanto o que? Enquanto a vida passa? Enquanto você tem 25 anos? Como se fosse ficando mais fácil com o passar da idade? Sinto dizer, não fica não. Aliás, normalmente, só fica mais complicado.

Já disse John Lennon – “a vida é o que acontece a você, enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.

A questão é sempre prestar atenção ao que está acontecendo a você hoje – perseguir tudo aquilo que te faz feliz, e perder o mínimo de tempo – de preferência tempo nenhum - com qualquer coisa que não te faça feliz. Porque tempo é a única coisa que é nossa, de verdade. O resto vem e vai. Não dá para esperar anos pra ser feliz. Só é possível ser feliz hoje. O amanhã não tem garantia, não tem certificado – é produto que pode não ser entregue, ou, quando entregue, vem numa caixa fechada, e quando a gente abre pode encontrar qualquer coisa.

O hoje é seu. O que você está escolhendo fazer com ele?

© 2009 Paulo Ferreira. Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A COPA DO MUNDO E O COMPLEXO DO VIRA-LATA

Estava assistindo o sorteio dos grupos para a Copa 2010 na África do Sul, transmissão ao vivo da Globonews. Sobre o som original, os comentaristas brasileiros falavam, traduzindo aqui e acolá algo mais importante, mas muito mais emitindo opiniões, comentando cada seleção sorteada e a formação dos grupos.
E cada vez que se sorteava uma seleção para o grupo do Brasil – ou para algum grupo que dará origem a possíveis adversários na segunda fase, o tom dos comentários começou a me chamar a atenção. Comecei a me incomodar com tamanha torcida para que esta ou aquela seleção não caísse no grupo brasileiro. Para que esta ou aquela posição no grupo vizinho fosse ocupada por uma seleção ais fraca e de menos tradição.
Começou a incomodar porque eu estava ouvindo dois comentaristas brasileiros, comentando para uma TV brasileira – o país pentacampeão mundial – o dono da camisa amarela que faz com que quase todos os adversários “amarelem” quando entram em campo. O terror das copas do mundo. O país considerado tão superior no futebol que se chegou a cogitar torná-lo impedido de disputar copas do mundo. (Lembram-se disso? Assim que fomos pentacampeões, foi o que algumas federações propuseram!)
E os comentaristas pareciam torcer e sofrer com cada seleção forte colocada no nosso caminho, como se tivéssemos a mesma tradição de futebol que a China, por exemplo.
Mais uma vez o nosso complexo de vira-lata. Os comentaristas brasileiros, falando para o público brasileiro, representaram a cristalização desse complexo, exatamente no campo em que nossa supremacia mundial é absolutamente indiscutível. Exceto pela Argentina – que por alguns anos teve vantagem no confronto direto com o Brasil - nenhuma seleção do mundo tem histórico favorável contra nós. Todas perderam ou empataram muito mais do que venceram. Ganhamos de todos; o tempo todo. Ganhamos mais copas que qualquer um. Somos o país do futebol, exportadores de craques pro mundo inteiro.
Mas o nosso complexo de vira-lata continua lá, mesmo no nosso campo de excelência. Qualquer estrangeiro que entendesse os comentários estaria assombrado com eles: o Brasil preocupado com a seleção de Portugal? A Costa do Marfim é uma ameaça? Ora, por favor!
Por um minuto, imagino o que seriam os comentários dos canadenses quando da formação dos grupos para os jogos de hóquei das olimpíadas de inverno de Vancouver, ano que vem: Seria algo como: vamos ver, então, quem vai disputar o segundo lugar. Porque o Canadá é imbatível no Hóquei no gelo. É o Brasil do Hóquei.
Do que temos tanto medo? Porque nunca abraçamos nossas forças? Porque não somos confiantes e desafiadores? Venha quem vier, Brasil é Brasil – vamos ver quem vai disputar o segundo lugar! No confronto direto, somos praticamente imbatíveis. É futebol, tudo pode acontecer – é verdade. Mas o retrospecto, a história e a tradição estão do nosso lado, com vantagem colossal!
Quero mais é que venha a seleção que vier! Quero eliminar a Espanha nas oitavas! Quero quebrar a argentina nas quartas! Quero a taça, quero o Hexa, a hegemonia! Quero o mundo inteiro olhando pra nós e dizendo mais uma vez: essa é a pátria de chuteiras, o país do futebol!
Quero o fim desse complexo idiota que diz que brasileiro é sempre o vira-lata, o “underdog”, o coitado. Pelo menos naquilo que somos os melhores, os campeões e hegemônicos, me livrem do espetáculo triste de ouvir comentários humilhantes, filhotes desse complexo ridículo.
Vou comprar uma camisa amarela da seleção, bater no peito e dizer: venham!
E neste sentido, só tenho a aplaudir o comercial da Brahma: na copa, são todos contra o Brasil! E todos com medo do Brasil. Esse é o espírito. O resto é bobagem. Que venha o HEXA!