sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs, escolhas e futurologia


©2011 Paulo R. R. Ferreira. Todos os direitos reservados.

Somos bastante fascinados pelas formas de prever o futuro, seja pelo aspecto mais místico ou num aspecto normal e mundano. Gostaríamos de saber qual a cotação do dólar na semana que vem, tanto quanto gostaríamos de saber se uma decisão que estamos tomando hoje vai resultar em sucesso, seja ela profissional ou pessoal.
Uma abordagem muito interessante é aquela que diz que o melhor modo de prever o futuro é criá-lo. Normalmente, associamos essa frase às grandes invenções e inovações, e o sucesso pessoal e financeiro que costuma acompanhar aqueles que são capazes de fazer isso, como o recentemente falecido Steve Jobs.
Mas o que normalmente não nos damos conta é que criamos o nosso futuro a cada escolha que fazemos – com ou sem consciência disso. E o próprio Jobs falou disso no seu famoso discurso aos alunos da graduação de 2005 em Stanford. [assista aqui, com legendas em português: http://youtu.be/66f2yP7ehDs ] Como ele mesmo destacou, é um modo de ver a vida, é uma abordagem total – não apenas uma estratégia de negócios.
Toda a lei das probabilidades, vista pelo modo mais simples e direto, mostra que teremos no nosso futuro aquilo a que nos dedicamos mais intensamente no presente.
Se nos dedicamos intensamente ao trabalho e ao dinheiro, se priorizamos isso, há grande probabilidade que você tenha, no seu futuro, trabalho e dinheiro. Simplesmente porque esse foi o foco escolhido, porque foi a ele que você dedicou a maior parte do seu tempo e esforços.
Precisamos lembrar apenas que o nosso tempo é curto, finito e limitado. Cada escolha por mais atenção a um aspecto implica necessariamente em menos tempo e atenção a outros aspectos da vida. Então, quem passa 30, 40 anos de sua vida se dedicando prioritariamente ao trabalho e ao dinheiro, muito provavelmente, terá aos 60, 70 anos, construído um futuro onde trabalho e dinheiro continuam sendo o centro.
E estas escolhas, com o tempo, podem causar um sério desequilíbrio, porque as pessoas mudam suas prioridades enquanto vivem. Aos 70 anos, a maior parte das pessoas valoriza a família, as relações pessoais, a companhia e a tranqüilidade muitíssimo mais do que jamais imaginou que valorizaria.
O problema é que quem passou a vida inteira se dedicando com foco intenso voltado para trabalho e dinheiro, construiu para si, igualmente, um futuro onde esses dois itens são dominantes. Por priorizar estes dois itens, muito provavelmente conviveu pouco com a família, não conseguiu construir relações sólidas e cumplicidades duradouras. E aos 70 anos, provavelmente não vai achar que ter uma vida preenchida apenas por trabalho e dinheiro vai ser satisfatória, ou nem sequer aceitável.
Quando escolhemos as prioridades da nossa vida HOJE, estamos, na verdade, fazendo as escolhas que determinarão nosso futuro. Estamos CRIANDO nosso futuro com nossas prioridades.
E posto que nossa vida é curta, finita e limitada, é altamente perigoso passar a vida priorizando demasiadamente alguns aspectos que quase certamente vão perder valor no futuro, em detrimento de outros, que farão muita falta.
Além de tudo, adiar a vida, priorizar apenas a segurança material, é uma atitude que faria sentido num cenário onde fosse garantido que viveríamos por tempo suficiente para colher DEPOIS o que plantamos hoje.
Mas, como todos sabemos, e como nos foi iconicamente demonstrado pela morte de Steve aos 56 anos: a vida não tem certificado de garantia.