quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Imagem de Marca: sua empresa demite por criticar o chefe no Facebook?

Leio que chegou a um acordo extrajudicial no último dia 8 o processo movido pelo National Labor Relations Board  (uma espécie de agência reguladora das relações de trabalho nos EUA) contra a empresa de serviços de emergências médicas chamada American Medical Response of Connecticut, que supostamente havia demitido uma funcionária por haver postado críticas ao seu chefe no Facebook.


Com o acordo extrajudicial, o caso não estabelece um precedente legal válido, mas ainda assim, chama muita atenção que a empresa acusada tenha buscado um acordo e concordado em revisar suas políticas e regulamentos sobre o que os funcionários podem ou não comentar na internet. O conselheiro geral do NLRB, Lafe Solomon, foi muito claro numa declaração extremamente importante, logo no início do caso, em novembro do ano passado:

“Este é um caso muito claro em relação ao Ato de Relações de Trabalho (n.do a.: a lei trabalhista americana): Não importa se é no Facebook ou no bebedouro da empresa, eram funcionários falando juntos sobre suas condições de trabalho; neste caso, sobre seu supervisor; e eles têm o direito de fazer isso.”

Ou seja, as leis trabalhistas e os tribunais americanos demonstram claramente que a censura não será aceita e que demitir um colaborador por discutir suas condições de trabalho, ainda que no Facebook, não é uma atitude que vai passar sem ser notada. Ponto para a liberdade individual de expressão, muito mais importante que o interesse específico de qualquer companhia. Mas às empresas, preocupadas com a preservação das suas marcas, de fato seus ativos mais valiosos – resta a questão: o que fazer sobre isso?

A resposta, cada dia mais, parece ser como dizem os americanos: “practice what you preach”, numa tradução livre, faça aquilo que você diz. Se a empresa quer ser percebida como socialmente responsável, quer os benefícios de valor de marca que vêm junto com uma imagem forte e consistente no mercado, ela precisa fazer jus a essa imagem que quer projetar. Cem por cento do tempo. Em tempos menos transparentes, as companhias desenvolveram uma habilidade muito forte em vender uma imagem muito melhor do que geralmente tinham “dentro de casa”,  especialmente no que diz respeito aos seus colaboradores.

Hoje, os funcionários são, quase todos, blogueiros, participantes de redes sociais, editores de seus próprios “diários abertos” no twitter. E todos eles têm plenos direitos a isso. Portanto, em meia hora, qualquer atitude desrespeitosa ou inadequada, qualquer pressão indevida ou acusação de abuso vai estar aberta na vitrine da internet, no Facebook, no Twitter, de onde será repercutida para outros milhares de pessoas instantaneamente. Não vai longe o dia em que um acontecimento como esse vai dar a volta ao mundo em um dia e no dia seguinte, causar estragos graves aos acionistas, derrubando o valor das ações da empresa.

São novos tempos, novos desafios. Mas as respostas para esses desafios são bastante conhecidas. Poderiam ter sido ditas pelo seu pai ou pelo seu avô: não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você. Não minta. Diga a verdade. Trate as pessoas bem, sempre. Tenha respeito por elas, sempre. Nunca abuse da boa-vontade ou da dependência econômica da relação trabalhista.

Pra não correr o risco, tenha sempre em mente que o modo que você trata seus colaboradores é tão aberto ao público consumidor quanto o site da sua empresa (e talvez muito mais interessante para a cobertura da mídia!). E se houver algum abuso mais sério, pode contar: todo mundo vai saber.
(C) 2011 Paulo R. Ferreira. Artigo Postado originalmente no Mundo do Marketing