terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A última de 2009

Esta é a mensagem que quero compartilhar com quem eu amo neste fim de ano.

Ela não é doce nem bonitinha. É mais uma provocação incômoda daquelas que eu costumo cometer sempre. E como sempre, não vem com bula nem com manual de instruções; até porque todos nós sabemos o que deveríamos fazer, assim como sabemos exatamente o que é realmente importante nessa vida.

Lá vai:

Sempre que vejo alguma matéria que mostra gente que perdeu o que ama, penso que apenas nessas horas é que as pessoas conseguem se dar conta do que realmente importa. No resto do tempo, andam pelo mundo, cegas, perdidas, em busca daquilo que a sociedade convencionou que deve ser feito. Só quando a tragédia arrebenta suas vidas é que se dão conta do quanto tempo foi perdido com bobagens – tempo que poderia ter sido vivido com aquilo que foi perdido ou aquele que se foi.
Mas aí, já é tarde. E enquanto ainda não era tarde, ninguém conseguiu ver, porque continuou cego pelo brilho de uma felicidade adiada, aquela que o mercado vende o tempo todo: “não pense nos seus sonhos hoje - trabalhe mais, produza mais, seja promovido, ganhe muito dinheiro – e assim, um dia você poderá realizar seus sonhos e ser feliz.”

Só que esse dia não chega, a menos que a gente escolha que esse dia seja hoje.

Felicidade não pode ser adiada, eternamente planejada. Não dá pra ser feliz esquecendo seus sonhos “por enquanto” – enquanto o que? Enquanto a vida passa? Enquanto você tem 25 anos? Como se fosse ficando mais fácil com o passar da idade? Sinto dizer, não fica não. Aliás, normalmente, só fica mais complicado.

Já disse John Lennon – “a vida é o que acontece a você, enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.

A questão é sempre prestar atenção ao que está acontecendo a você hoje – perseguir tudo aquilo que te faz feliz, e perder o mínimo de tempo – de preferência tempo nenhum - com qualquer coisa que não te faça feliz. Porque tempo é a única coisa que é nossa, de verdade. O resto vem e vai. Não dá para esperar anos pra ser feliz. Só é possível ser feliz hoje. O amanhã não tem garantia, não tem certificado – é produto que pode não ser entregue, ou, quando entregue, vem numa caixa fechada, e quando a gente abre pode encontrar qualquer coisa.

O hoje é seu. O que você está escolhendo fazer com ele?

© 2009 Paulo Ferreira. Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A COPA DO MUNDO E O COMPLEXO DO VIRA-LATA

Estava assistindo o sorteio dos grupos para a Copa 2010 na África do Sul, transmissão ao vivo da Globonews. Sobre o som original, os comentaristas brasileiros falavam, traduzindo aqui e acolá algo mais importante, mas muito mais emitindo opiniões, comentando cada seleção sorteada e a formação dos grupos.
E cada vez que se sorteava uma seleção para o grupo do Brasil – ou para algum grupo que dará origem a possíveis adversários na segunda fase, o tom dos comentários começou a me chamar a atenção. Comecei a me incomodar com tamanha torcida para que esta ou aquela seleção não caísse no grupo brasileiro. Para que esta ou aquela posição no grupo vizinho fosse ocupada por uma seleção ais fraca e de menos tradição.
Começou a incomodar porque eu estava ouvindo dois comentaristas brasileiros, comentando para uma TV brasileira – o país pentacampeão mundial – o dono da camisa amarela que faz com que quase todos os adversários “amarelem” quando entram em campo. O terror das copas do mundo. O país considerado tão superior no futebol que se chegou a cogitar torná-lo impedido de disputar copas do mundo. (Lembram-se disso? Assim que fomos pentacampeões, foi o que algumas federações propuseram!)
E os comentaristas pareciam torcer e sofrer com cada seleção forte colocada no nosso caminho, como se tivéssemos a mesma tradição de futebol que a China, por exemplo.
Mais uma vez o nosso complexo de vira-lata. Os comentaristas brasileiros, falando para o público brasileiro, representaram a cristalização desse complexo, exatamente no campo em que nossa supremacia mundial é absolutamente indiscutível. Exceto pela Argentina – que por alguns anos teve vantagem no confronto direto com o Brasil - nenhuma seleção do mundo tem histórico favorável contra nós. Todas perderam ou empataram muito mais do que venceram. Ganhamos de todos; o tempo todo. Ganhamos mais copas que qualquer um. Somos o país do futebol, exportadores de craques pro mundo inteiro.
Mas o nosso complexo de vira-lata continua lá, mesmo no nosso campo de excelência. Qualquer estrangeiro que entendesse os comentários estaria assombrado com eles: o Brasil preocupado com a seleção de Portugal? A Costa do Marfim é uma ameaça? Ora, por favor!
Por um minuto, imagino o que seriam os comentários dos canadenses quando da formação dos grupos para os jogos de hóquei das olimpíadas de inverno de Vancouver, ano que vem: Seria algo como: vamos ver, então, quem vai disputar o segundo lugar. Porque o Canadá é imbatível no Hóquei no gelo. É o Brasil do Hóquei.
Do que temos tanto medo? Porque nunca abraçamos nossas forças? Porque não somos confiantes e desafiadores? Venha quem vier, Brasil é Brasil – vamos ver quem vai disputar o segundo lugar! No confronto direto, somos praticamente imbatíveis. É futebol, tudo pode acontecer – é verdade. Mas o retrospecto, a história e a tradição estão do nosso lado, com vantagem colossal!
Quero mais é que venha a seleção que vier! Quero eliminar a Espanha nas oitavas! Quero quebrar a argentina nas quartas! Quero a taça, quero o Hexa, a hegemonia! Quero o mundo inteiro olhando pra nós e dizendo mais uma vez: essa é a pátria de chuteiras, o país do futebol!
Quero o fim desse complexo idiota que diz que brasileiro é sempre o vira-lata, o “underdog”, o coitado. Pelo menos naquilo que somos os melhores, os campeões e hegemônicos, me livrem do espetáculo triste de ouvir comentários humilhantes, filhotes desse complexo ridículo.
Vou comprar uma camisa amarela da seleção, bater no peito e dizer: venham!
E neste sentido, só tenho a aplaudir o comercial da Brahma: na copa, são todos contra o Brasil! E todos com medo do Brasil. Esse é o espírito. O resto é bobagem. Que venha o HEXA!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pesquisa científica diz o que é preciso para “Pensar fora da caixa”

É ótimo quando as pesquisas científicas confirmam aquilo que a gente sabe, mas não podia apresentar com dados e confirmação científica, não é mesmo? Foi o que aconteceu na edição setembro/outubro da revista da HSM Management: foi publicado um artigo e uma entrevista com o Professor Gregory Berns, físico, neurologista e engenheiro biomédico que trabalha nos departamentos de psiquiatria e economia da Emory University, nos Estados Unidos. O livro mais recente do Prof. Berns se chama “Iconoclasta: um neurocientista revela como pensar diferente.” No livro, o Prof. Berns divulga resultados e conclusões de suas pesquisas na área do pensamento criativo e da inovação. São conclusões importantes do ponto de vista científico, mas nem todas chegam a surpreender quem passou a vida toda trabalhando com criatividade e inovação numa base diária. Uma das conclusões mais diretas e efetivas do Prof. Berns é a seguinte:

- “Para “pensar diferente” a atitude mais benéfica que você pode ter é se colocar fora de seu ambiente usual. É raro que as pessoas tenham idéias novas enquanto estão sentadas em seu escritório ou interagindo com as mesmas pessoas todos os dias. Observamos que se colocar em uma circunstância inédita ou diferenciada, seja numa viagem ou encontrando pessoas que não vemos todos os dias, é de longe a melhor forma de fazer com que o cérebro saia de seu modo previsível e desperte a criatividade inerente.”

Os escritores sabem disso há muito tempo, daí tantos “livros de viagens” e romances escritos durante estadias em países diferentes, as chamadas “obras do exílio”. Pintores também são famosos pela inspiração fornecida por novos ares e paisagens diferentes. Diretores de cinema como Woody Allen e David Lynch já endossaram a tese. E os melhores criativos que conheço, inclusive nas várias agências nas quais trabalhei, sempre foram unânimes em apontar o valor inestimável de mudar o cenário para ter suas melhores idéias.

Ao sair da mesa, tomar um café, ir até a esquina para comprar um sorvete, ou qualquer coisa que quebre a rotina e os tire de trás de suas mesas, a criatividade sempre parece fluir melhor, com mais facilidade, mais rapidamente. Naturalmente, isso sempre foi verdadeiro pra mim também, e por isso sempre estimulei as equipes de criação que dirigi a terem essa atitude de mudar de ares e evitar a rotina de ficar atrás da mesa. Previsivelmente, nem sempre isso agradou a todos nas agências onde trabalhei.
Muitas vezes o pessoal que não era diretamente responsável por criar a nova idéia, a campanha ou o plano inovador achava que se o pessoal não estava sentado à sua mesa, fazendo cara de compenetrado, escrevendo ou ilustrando – não estava produzindo.
Sempre defendi o contrário – o criativo é mais produtivo sempre que ele ”sai da caixa”, qualquer que seja a caixa: a mesa, a baia, a sala de reuniões ou o horário exato que se espera que ele faça. Milhares das melhores idéias aconteceram enquanto os criativos estavam dirigindo de volta pra casa; quando eles estavam tomando banho na manhã seguinte ao dia do briefing; quando eles saíram de suas mesas para tomar um café e dar uma volta – sem necessariamente fazer cara de conteúdo: simplesmente indo até a padaria da esquina, despreocupadamente.

Pensando bem, nada mais óbvio: para que as pessoas pensem fora da caixa, deixe que elas saiam das suas caixas! Parece a coisa mais simples do mundo – mas não costuma ser simples no cotidiano: os empresários, os clientes e o pessoal do atendimento normalmente reclamam, se chateiam e agem como se o criativo não estivesse fazendo seu trabalho cada vez que ele tenta sair da caixa física, ou da caixa dos horários exatos aos quais a burocracia gosta tanto de submeter as pessoas na ilusão de controlá-las. No caso de um trabalhador intelectual que executa tarefas criativas, um controle absolutamente ilusório, porque ficar sentado à mesa com cara de preocupado nunca ajudou ninguém a ter uma idéia feliz, inovadora, inspirada, arejada. De fato,com também está hoje comprovado cientificamente, idéias felizes e produtivas têm mais chance de acontecer quando as pessoas estão felizes. Trancadas nos limites da sala, do horário estrito e da burocracia, as pessoas ficam menos felizes. E suas idéias ficam burocráticas, sem graça, sem inovação.

Curioso que burocratas cinzentos se perguntem “porque é tão difícil encontrar idéias que sejam realmente “fora da caixa?” É exatamente por aquela atitude que os criativos sempre valorizaram tanto, e que os mesmos burocratas sempre chamaram de bobagem, frescura, ou coisa muito pior.

Mas agora, pasmem: tem até comprovação científica!

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

HOMEM EM GUERRA

O homem dessa primeira década do século XXI é um homem em guerra. O estado de guerra mudou com o passar dos tempos. Até o início do século XX, era uma coisa física, real, aberta. Na segunda metade do século XX, tornou-se uma guerra de ameaças entre nações, a guerra fria. E no final do século XX e começo do século XXI, tornou-se uma guerra interna, de cada homem consigo mesmo.
Vivemos em guerra contra nossas limitações. As do corpo ou as da mente. Lutamos contra nossos limites, físicos, mentais ou espirituais. Vivemos em guerra por sermos hoje mais materialistas que nunca, e mais individualistas que nunca. Toda a tecnologia e as novidades da área de beleza e saúde nos convenceram que podemos ser jovens para sempre, belos para sempre. E se não somos suficientemente belos, temos mais que possibilidade: temos dever, obrigação de nos melhorarmos.
O homem atual não sabe o que é paz. Embora não viva a guerra aberta nos campos nem a guerra fria entre nações, vive a guerra interior da qual não pode escapar. Aceitar-se, compreender-se significa uma rendição inaceitável nesse modelo perfeccionista e consumista. Não fazer cirurgia plástica, ou não fazer a enésima especialização na carreira, torna-se imoralidade.
Descanso é algo mal-visto. Descanso é algo que somente os muito ricos e muito belos deveriam ter. E mesmo esses não têm. Sentem-se igualmente em guerra com eles mesmos, não se aceitam, querem o aperfeiçoamento constante, contínuo, a riqueza crescente.
Não importa o tamanho da montanha de dinheiro que tenham hoje. Se amanhã não tiverem ainda mais, sentir-se-ão fracassados, perdedores. Hoje, quase todos vivem exaustos.
Hoje, muitas pessoas, num dia de trabalho, não dizem que vão almoçar. Dizem que vão apenas “comer qualquer coisa” ou “pegar um lanchinho”. As pessoas têm vergonha do tempo que passariam alimentando-se com calma, almoçando e conversando enquanto o fazem. Um almoço que leve mais de 30 minutos e não seja dedicado aos negócios é praticamente uma vergonha. Aqueles que o fazem, às vezes não se permitem admitir que o fazem, por medo das críticas. Envergonham-se do bem-estar. Aqueles que porventura num dia específico estejam mais tranqüilos, ou menos atarefados, procuram esconder isso dos demais. Porque há muito medo da inveja alheia, e ao mesmo tempo, medo de passar a vergonha de não estar alinhado com o máximo esforço pela totalidade do tempo.
Não ter olheiras, insônia, preocupações infinitas e não estar exaurido significa, para muitos, ter de esconder isso para não se envergonharem de si mesmos.
Não se permitem tempo para usufruir o que tem. Não se permitem o mínimo tempo para reflexão. Não conhecem o significado da palavra paz. Não conhecem mais o significado do conceito interior de paz.
Olhe nos olhos de um homem contemporâneo. Eles nunca param. Precisam buscar incessantemente tudo aquilo que estão perdendo. Nosso tempo febril não permite piscar. Fechar os olhos ou desligar o celular. Todos já os mantém ligado mesmo nos teatros e cinemas. Como suportar o risco de perder algo? O que quer que seja; perder é insustentável para nós, hoje.
Mas estranhamente algumas perdas são toleráveis ao homem contemporâneo: a perda da nossa humanidade, da nossa falibilidade, do nosso sagrado direito à imperfeição e à necessidade de descanso. Acima de tudo, toleramos perder a paz interior. Pior ainda, ver que tantos consigam orgulhar-se disso.

© 2009 Paulo Ferreira. Todos os direitos reservados.

terça-feira, 21 de julho de 2009

INVADINDO A CRISPIN PORTER + BOGUSKI: A MAIOR LIÇÃO PARA OS BRASILEIROS.

Lendo o artigo do Flávio Waiteman na sessão “entre aspas” do Caderno de Propaganda e Marketing desta segunda-feira, dia 20, intitulado “Invadindo a Crispin Porter + Boguski”, não pude resistir à tentação de escrever este comentário, destacando a mais valiosa lição da CPB para o mercado brasileiro.
O artigo começa com a data da visita do Flávio à CPB: 29 de maio de 2009. Um sábado. E nesta informação está contida a grande lição da CPB para os publicitários brasileiros. No citado sábado no qual o Flávio visitou a agência, que ele chama de “Meca, a Igreja de São Pedro, o berço do Buda” – o templo estava vazio. E esta é a informação mais valiosa do artigo. No sábado, os geniais profissionais da CPB não estão lá. Estão em casa, viajando, estão com suas famílias, estão andando de bicicleta, visitando exposições, vendo filmes. Por isso, quando eles voltam, na segunda-feira, tem suas vidas enriquecidas, novos conhecimentos, estão relaxados, viveram, curtiram. E então podem criar, de verdade. Ou alguém tem dúvida que é isso que eles fazem, e muito bem?
O Flávio cita ainda que a CPB tem um departamento com 10 (DEZ!) pessoas, que trabalha para garantir o bem-estar dos funcionários da agência. Ali, as pessoas são o ativo mais valioso que a agência tem, e ao contrário de muitos empresários brasileiros, vivem de acordo com o que dizem. “Walk their talk”. Aqui, a frase é bonita de dizer, sai fácil da boca de muita gente; mas quem pratica? Aqui, o bem estar das pessoas é importantíssimo, contanto que venha depois de todas as quatrocentas e setenta e duas prioridades “urgentes” que a brasileiríssima falta de planejamento de trabalho nos coloca todos os dias. Alguém acha mesmo que uma agência que paga (e paga bem, obviamente) dez indivíduos para cuidar do bem estar dos seus funcionários colocaria todos eles pra trabalhar no sábado?
O Flávio, no artigo, ainda ironiza “andar por aquelas dezenas de salas/casulos vazios. Em pleno sábado útil.” Pois é: esta é toda a questão, a diferença e a lição maior da CPB: ela trata seus funcionários com respeito, age de acordo com a filosofia de preservá-los, cuidar deles, porque é deles que vêm os milhões do faturamento.
A CPB sabe que levar seus funcionários ao burn-out; prática corriqueira das agencias brasileiras, não faz sentido nenhum, é de uma estupidez atroz. Pelo menos para quem quiser um dia ter uma agência com as qualidades ( e os resultados) da Meca, Igreja de são Pedro, berço do Buda que é a Crispin, Porter + Boguski.

© 2009 Paulo Ferreira. Todos os direitos reservados.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O GOOGLE PODERIA TER SIDO BRASILEIRO

NOVO ARTIGO DE PAULO FERREIRA PUBLICADO NO MUNDO DO MARKETING:

"O GOOGLE PODERIA TER SIDO BRASILEIRO"

PARA LER, CLIQUE:

http://www.mundodomarketing.com.br/artigosmateria.php?hi=3&id=53&materia=9450

quinta-feira, 19 de março de 2009

O sentido (mas também a atitude) parte do receptor.

O sentido parte do receptor. Ouvimos essa frase muitas vezes nos estudos básicos de comunicação. Se o emissor quis dizer X, mas o receptor entendeu Y – o emissor não obteve sucesso em se comunicar com o receptor. Conceito absolutamente válido.
Mas o que dizer dele agora, a esta altura dos acontecimentos, quando os receptores, a audiência, o público, tem um acesso tão amplo a montanhas de informação? Claro, a capacidade interpretativa cresce, sempre e inexoravelmente. (embora coletivamente num passo muito lento, como bem nos lembram os milhões de analfabetos ainda existentes no Brasil.)

Mas quero me ater aqui à parte dos receptores que tem condição e preparo para decodificar, que possui o ferramental básico adequado. Quando nos dirigimos a este público, seja por um e-mail, um telefonema, um artigo, uma apresentação de projeto – temos uma razoável noção do preparo e do nível de conhecimento do receptor.
E mesmo assim, muitas das nossas mensagens não são devidamente decodificadas e interpretadas. É aí que entra o adendo à frase clássica que coloquei no titule deste: a atitude.

A disposição, ou atitude do receptor é um ponto crucial a ser considerado quando avaliamos o resultado da mensagem; seus elementos constituintes e sua qualidade. Uma mensagem pode estar perfeitamente elaborada, clara, estruturada e compreensível. O mesmo receptor pode, numa ocasião, rejeitá-la ou não compreendê-la, e num segundo momento, perceber facilmente seu valor.
Em termos de comportamentos do receptor, para fins dessa análise, vou destacar três atitudes básicas:

Ativa – quando o receptor tem empatia com a mensagem, seja por suas características, seja pela empatia pelo emissor; ele tende a ser “todo ouvidos”, dar atenção, focar na absorção da mensagem. Às vezes, tende inclusive a demonstrar sua adesão à mensagem por meio de gestos, assentir com a cabeça, sorrir ou até mesmo complementar frases. Essa atitude valoriza os pontos positivos da mensagem, e normalmente, se o receptor tem reservas ou dúvidas quanto a alguns aspectos da mensagem, vai aguardar que toda ela seja compreendida, para só então levantar suas dúvidas ou questionamentos, normalmente sob a forma de perguntas. Muitas vezes vai formular as perguntas de modo a guiar as respostas para que estas vão ao encontro de suas expectativas. Isso tudo demonstra claramente sua “vontade” ativa por consumir a mensagem e aceitá-la.

Neutra – quando o receptor não tem empatia especial, mas não tem “nada contra” a mensagem. Recebe-a de modo neutro, analisando seus argumentos, muitas vezes questionando durante a emissão da mensagem, mas de modo que demonstra curiosidade e esforço de entendimento. Busca a compreensão “macro” da mensagem e faz perguntas objetivas, simples, destinadas a esclarecer pontos específicos ou interpretações gerais, e normalmente não toma partido a favor ou contra durante a apresentação da mensagem. Esse receptor está observando toda a mensagem antes de tomar partido em relação a ela. Aqui, se a mensagem é competentemente constituída, a chance de sucesso é grande. Se, entretanto, a mensagem é deficiente, seja na forma, argumentação ou conteúdo, a adesão torna-se difícil.

Defensiva – esta é a atitude que originalmente me levou a escrever este texto, visto que ela parece cada dia mais comum, especialmente nos ambientes corporativos. O receptor em atitude defensiva tem comportamentos muito peculiares, que pouco ou quase nada são influenciados – ou influenciáveis – pela qualidade da mensagem. Em atitude defensiva, o receptor tem pensamentos pré-concebidos em relação à mensagem, o seu conteúdo, forma ou emissor. Essa atitude defensiva faz com que o receptor se agarre aos seus conceitos preestabelecidos como se fossem escudos a protegê-lo da mensagem, que é vista como verdadeira ameaça – e assim o é, de fato – é uma ameaça ao modo de pensar que o receptor adotou como “o único verdadeiro” ; inquestionável. A atitude defensiva começa por dedicar pouca atenção à mensagem. Mesmo quando parece atento, este receptor frequentemente, está dividido entre captar a mensagem e construir conscientemente argumentos que possam invalidá-la. A atenção deste receptor se fixa diretamente nos pontos onde ele possa apoiar suas objeções: as partes eventualmente concordantes terão pouca atenção. Mas apenas um, ou uns poucos pontos de “ameaça” identificados são suficientes para que esse receptor se agarre a eles. A partir daí, há a tendência ao questionamento específico, detalhista e monotemático: sempre aqueles mesmos pontos específicos de discordância estarão nas perguntas ou intervenções do receptor. O receptor defensivo normalmente vai se recusar a “pensar macro”, terá pouca ou nenhuma disposição para analisar o quadro por inteiro. Vai se prender a detalhes, mesmo que estes sejam pouco relevantes. Caso tenha suas objeções derrubadas, tenderá a descer cada vez mais fundo a detalhes cada vez menores e mais específicos, na busca por aquilo que, desde o princípio, deseja: invalidar a mensagem, que considera uma ameaça às suas crenças, à sua “verdade única”.

O que fazer?
O mais útil nesta discussão talvez seja: o que fazer nessas situações? Quando seu receptor é ativo ou neutro, se a sua mensagem é competentemente estruturada e suas intenções de fato produtivas, não há com que se preocupar, ocorre o sucesso da comunicação, o sucesso da transmissão da mensagem, e a conseqüente adesão, concordância, representada pela compra, pela aceitação, pelo engajamento do receptor.

Mas quando o receptor é defensivo, muitas vezes ocorre, por parte dos responsáveis pela mensagem, uma perigosa inversão de ângulo: culpam a mensagem, por eficaz que ela seja, por mais corretamente estruturada. Chamo a isso de inversão porque quando afirmamos: “o sentido parte do receptor”, não podemos considerar que o receptor seja, jamais, um elemento de julgamento pleno, justo, imparcial e exclusivamente racional. Como profissionais de comunicação, temos a obrigação de reconhecer e julgar uma mensagem competentemente desenvolvida. Somos incumbidos de criar estas mensagens, tanto quanto incumbidos de considerar as possíveis reações e interpretações dos receptores. E não podemos invalidar nosso julgamento em função da atitude do receptor: estamos, ou pelo menos devemos estar (e por devemos, entenda por dever profissional mesmo) mais preparados para julgar a composição e qualidade de uma mensagem do que o receptor que não é profissional de comunicação.

Portanto, quando nossa mensagem esbarra na barreira da atitude defensiva do receptor, cabem-nos dois caminhos, não optativos, mas complementares:

Em relação ao receptor defensivo – abandone a linha de venda da mensagem imediatamente. Quanto mais você insistir nesta linha que ele identificou como ameaça, mais ele vai se defender, atacando a sua mensagem. Reconheça que o receptor está na defensiva, passe a buscar nele o entendimento do problema. Pergunte, ativamente: como você vê esta questão? O que você crê que pode ser um caminho aqui? Talvez ele se abra, e lhe forneça informações que podem dar origem a uma nova mensagem ou proposta. Talvez ele não diga nada útil, porque não saiba, ou porque simplesmente não quer trabalhar com você (oposição ao emissor).

Em relação à mensagem – especialmente se ela é uma apresentação ou projeto bem-elaborado, que custou tempo a desenvolver: procure identificar um novo potencial receptor para esta mensagem. Há algum mercado ou player similar que possa aproveitá-la?
O mais importante é que se resista a fazer o pior: culpar a mensagem, desvalorizar o que foi desenvolvido, simplesmente porque o receptor teve atitude defensiva. O receptor é sempre humano, emocional, motivado pelas suas próprias razões e interesses, muitas vezes pessoais.
E o valor e qualidade da sua mensagem não têm absolutamente nada a ver com isso.

Só pra terminar, imagine que a idéia de “destruir as mensagens que encontrem atitude defensiva” tivesse sido adotada em relação à pintura de Van Gogh: em vida, ele não vendeu um único quadro. Os receptores estavam defensivos e viam no seu estilo ousado e forte uma ameaça ao senso estético vigente à época em que foram pintados. Mas os profissionais competentes que entendiam de fato o valor daquelas mensagens resguardaram-nas do fogo.

Por isso, alguns deles ficaram milionários alguns anos depois.

© Paulo Ferreira, 2009.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Einstein disse tudo isso no século passado...

Mas será que mesmo hoje, as pessoas entendem tudo isso?

“eu não tenho nenhum talento especial. Sou apenas tremendamente curioso”

“nós não podemos resolver problemas usando apenas o mesmo tipo de pensamento que usamos para criá-los.”

“o intelecto tem pouco a fazer na estrada do descobrimento. Aí entra um salto de consciência, chame isso de intuição ou chame como quiser, e a solução vem até você e você não sabe como ou porque.”

“Imaginação é mais importante que conhecimento.”

"Conhecimento é limitado. a imaginação não tem fronteiras."

- Albert Einstein