sexta-feira, 15 de junho de 2007

Diálogos IV – Desenvolvimento da Consciência Humana

Como é que chama esse lugar mesmo?

IDCH

E o que quer dizer isso?

Instituto de Desenvolvimento da Consciência Humana

Você tá inventando, né?

Não. Tá na camiseta do cara lá no balcão.

Nossa.

O shitake tá bom

O meu tá meio sem gosto.

Põe um pouquinho do teriaki que tá ótimo.

Ué – olha lá: tem cerveja aqui?

É. Mas o garçom disse que só tinha suco.

Acho que a cerveja não vai ajudar muito no desenvolvimento da consciência humana...

Será que a gente consegue aquele sofá do canto?

Essa música tá muito boa... um jazz-acid-indiano-citarizado.. uou...

É a noite Fluid. Chill art...

Hã? Chill out?

Não, chill art mesmo

...

Isso é o máximo, não quero ir embora, tô com vontade de dormir aqui

Às quatro da manhã eles devem ter que acordar todo mundo pra poder fechar...

O pessoal não dança?

Tem alguns ensaiando uns passinhos

Nossa, tem um misto de Ney Matogrosso com Paulo César Pereio se esbaldando ali...

Yoga...

Yoga...

Aquela menina ficou parada meia hora olhando pra banda e pra pista de dança, sem se mexer. Parecia num transe, fora do mundo. Depois, lentamente, começou a se mexer como se finalmente tivesse se conectado à música...

É o Desenvolvimento da Consciência Humana...

Mas como tem plantas bonitas aqui.. o que será que eles fazem?

Regam?

Não... não pode ser só isso.. tem plantas lá dentro também...

É... as plantas também desenvolveram a consciência... essa coisa natural, saudável...

Olha, eu acho que é outra coisa mesmo...

O que?

Acho que o teto abre...

Ah...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Diálogos - 3 -

Então...

Pois é.

Não é irritante quando aparecem esses silêncios no meio de uma conversa?

Olha, depende. Com você eu não me incomodo não.

Como assim?

Com quem a gente não conhece bem é que fica chato; mas com você eu não me incomodo que isso aconteça. Acho que tem uma coisa de intimidade – é como uma barreira que se ultrapassa: você começa a estar realmente à vontade com alguém quando consegue ficar em silêncio e não se sentir incomodado com isso.

Então você está dizendo que eu não estou á vontade com você, mas que você está à vontade comigo?

Pode ser. Não sei, mas pode ser sim. As relações não avançam igualmente dos dois lados – cada um tem seu próprio tempo e ritmo.

Interessante isso. Mas eu acho que tem gente que nunca passa por isso. Eu conheço um cara que sempre tem assunto – é uma coisa incrível – e sem ficar perguntando se vai chover, é claro, porque isso não conta, nem é conversa realmente.

Ele é solteiro, né?

É divorciado, eu acho.

E está sozinho, certo?

Não sei. Mas o que isso tem a ver com o assunto?

Porque ele precisa falar, tem tudo a compartilhar e ninguém pra fazer isso com freqüência.

Pode ser, mas eu conheço gente que é assim e não vive sozinho.

É, pensando bem, tem gente que esse talento de manter a conversa em alta mesmo...

Eu li uma vez que isso é importantíssimo pra quem organiza jantares e festas em casa: você precisa misturar os convidados colocando essas pessoas entre outras que não falam tanto, assim os grupos conversam e todo mundo acha a festa ótima...

É, às vezes vou almoçar com alguém e a conversa não rola... aí eu me lembro que fui almoçar com a pessoa antes e tinha rolado bem.... Só pra me dar conta que quem manteve o assunto em alta foi um terceiro – que não estava nesse outro almoço, entende?

Você fica sem assunto? Essa não...

Não, não acontece muito... Mas depende da situação. Essas pessoas que você está falando são aquelas que nunca passam por isso, certo? Eu já passei.

Eu também.

É.

Pois é.

...

Viu?

O que?

O silêncio: aconteceu de novo. É por causa das respostas curtinhas. Quando você dá uma resposta curtinha, funciona como se fosse um ponto final num texto escrito: pára a comunicação.

É.

Viu? Outra vez: é só você dizer “É.” Que acontece....

É?

Bom... Assim não acontece porque é uma pergunta....