sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Prêmio Jabuti 2010 ou O dia em que entrevistei Chico Buarque

4 de novembro de 2010 – Cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti, 52ª edição, na belíssima Sala São Paulo, um orgulho nacional, uma das mais belas salas de concerto do continente. Cobrindo o evento para a Câmara Brasileira do Livro, desta vez tive a oportunidade única e rara de uma entrevista exclusiva com Chico Buarque de Hollanda – o escritor – porque o cantor e compositor, a estrela da música brasileira estava lá somente para o público e os fãs. Para ele mesmo, e para o Prêmio Jabuti, esteve lá o escritor, o premiado romancista.
Entrevistei Chico em frente ao seu camarim (do lado de fora, a pedido dele mesmo). Tranqüilo como sempre, acompanhado de seu editor Luiz Shwarcz, da Cia das Letras (a quem agradeço muito a simpatia e o fato de ter-me reconhecido de tantos outros eventos cobrindo seus autores), Chico se confessou muito feliz com a premiação, que recebe pela terceira vez: “Me dei conta que receber prêmio literário tem um peso diferente” e disse que reconhece, sim, a importância da presença de famosos como um fator que colabora com a divulgação da literatura e dos livros, algo tão relevante para transformar o Brasil num país de leitores.
Mais tarde, com Chico no palco, o Mestre de Cerimônias Cunha Jr. contando uma passagem acontecida em Frankfurt, quando conheceu Chico; reforçou ainda mais a minha noção do grande privilégio que tive: “entrevistar Chico Buarque é o sonho de todo jornalista, e eu tive essa honra na ocasião”.

Pois o Chico escritor e romancista é de uma humildade desconcertante. Ao cumprimentá-lo eu disse, com toda sinceridade: “- Muito prazer Chico, é uma honra conhecê-lo” – e embora ele deva estar mais do que acostumado a ouvir isso, ainda fica sem jeito. Pedi pra entrevistá-lo, ele concordou na hora, e ainda tive de pedir a ele para mudar de lugar, porque estava em frente ao espelho do camarim – ao que ele pediu, então, que fizéssemos a entrevista do lado de fora do camarim. Fomos e confesso que fiquei com medo de perder a chance, caso juntasse gente – mas o acesso àquela área era muito controlado (não pergunte como eu cheguei lá, tem coisas que não se explica...) e pude, então, entrevistá-lo. Não posso publicar aqui ainda o conteúdo da entrevista, em razão da primazia de uso pela Câmara Brasileira do Livro. Mas posso contar que Chico estava muito feliz com o prêmio, e muito feliz em estar ali. Fez uma entrada tão discreta, já depois de iniciada a cerimônia, que a maior parte do público não viu que ele estava ali. Até o momento em que caminhou para o palco, com a naturalidade e a leveza que os realmente grandes e geniais conseguem ter, para receber o prêmio pelo segundo lugar como Livro de Ficção por “Leite Derramado”. A sala São Paulo veio abaixo em aplausos. E era apenas a sua primeira aparição na noite – ele subiria ao palco ainda por mais duas outras vezes na noite: para receber o prêmio Voto Popular e o Prêmio Livro do Ano.

Ao receber o último de seus três prêmios numa única noite, Chico se encaminhou diretamente para a porta lateral por onde tinha entrado e saiu, discretamente, seguido apenas por amigos que estavam com ele; entre eles Regina Duarte, que momentos antes arrebatara o público com uma leitura genial de um trecho do livro vencedor do primeiro lugar – “Se eu abrir meus olhos agora” de Edney Silvestre. 

Curioso é que antes da cerimônia, enquanto eu a entrevistava, Regina estava preocupada em encontrar um lugar onde pudesse assistir ao final da premiação sem desviar demais a atenção do público. Descobri então, que ela encontrou o lugar perfeito para ser discreta naquela situação: sentou-se perto de onde estava Chico Buarque.

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